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Mural

Bibi - Mas é claro!!! É só marcar! Normalmente eu marcaria para comer algum doce em algum lugar, mas dado meu estado regimístico, só posso jantar, onde e quanto então??

Sandra - Pois é, você foi a primeira conhecida via blog, mas é que com você eu tinha aquele sentimento de que já conhecia há tempos...só depois que você falou que eu me dei conta que não conhecia, né? Bom...agora temos que marcar mais encontros então.

Lilian - Pois é, você que é experiente no assunto de encontros virtuais reais pode me dar umas dicas do tipo, como conversar com a pessoa sem parecer que você está fazendo um texto pro blog??


Carol - Valeu, quem sabe um dia, quando ou SE eu conseguir acabar minha tese eu não resolvo investir num livro blogal...ou talvez melhor seja mesmo largar esse negócio de tese e só ficar escrevendo bobeira!!! Beeeem mais divertido!

Eva - Apesar de não usufruir do seu homestay, a gente ainda pode se encontrar também e fazer um encontro bloguísitco triplo, hein?

Tatty - Quer dizer que eu devo beliscar a Flávia?

Flávia - Você leu, vou ter que te beliscar, prepare-se.


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Do virtual pro real

Eu nunca conheci ninguém de verdade por internet, não tenho amigos que acabaram casando com a "Gatinha23" que conheceram na sala de chat, não tenho nem Orkut e até um dia desses não sabia que existia um mundo paralelo chamado Blogosfera, Blogolandia ou sei lá o que.

Na verdade, eu nunca achei que internet era lugar de conhecer gente, mas sim pra manter perto as "gentes" já conhecidas. No entanto, depois que comecei com essa insanidade que é bloguear, me peguei mais de muitas vezes pensando o que fulano vai pensar quando ler este post? Será que ciclano voltou de viagem? Como será a casa nova dela? Será que ele já fez isso? Tadinha dela gente...Poxa vida, vou orar por isso e tantos outros pensamentos - sendo ciclano, fulano, ela e ele pessoas que eu nunca vi na vida, muitas vezes nem sei que cara tem, com algumas raras exceções.

Mas bem, de passaporte virtual carimbado, estou empolgadíssima com meu primeiro encontro real do mundo virtual. Gente, gente, gente...eu vou conhecer a Flávia!! . E pensar que foi por causa do Iglu que este blog surgiu...é quase como conhecer a mãe do seu filho, sendo que ela não é você...ok, pensamento confuso, esquece a metáfora.

O fato é que arranjei um congresso de desculpa pra conhecer a costa Oeste. Convenci o marido que ele vai ter muitas coisas para fazer com Impermeabilizack (a prova de chuva de Vancouver) enquanto eu estiver no congresso e que vai ser super divertido. É claro que o congresso nesse momento passa a não ser mais tão importante assim... Vancouver aí vamos nós! Contagem regressiva, em duas semanas. Aguardem fotos do encontro histórico das pessoas sem sapatos com os habitantes do Iglu... (histórico para mim já que vai ser o marco da travessia da fronteira cibernética -ok, hoje eu estou meio alterada nos meus exemplos, melhor ir dormir).

Flávia - eu vou ser a moça baixinha, meio gordinha, tentando tirar uma pedra da boca de um nenê baixinho e meio magricela que foge fazendo tchau, com uma rosa amarela no colarim :-)
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Educação de Primeiro Mundo

Pois é, hoje não é segunda, mas como a saga das "Segundas-sérias" só durou um dia mesmo, vamos de "Terça-séria", pero no mucho.

Para começar a coisa, estou trabalhando na rede de escolas inglesas aqui de Montréal é observar os alunos (e professores, por conseqüência) nas salas de aula para ver quais são as dificuldades e promover estratégias para melhorar a função e a participação no ambiente escolar para todos os, inclusive aqueles com necessidades especiais. Todo esse blá, blá, blá só pra dizer o quanto estou horrorizada com o sistema escolar daqui, e com a formação dos professores, principalmente.

Logo de cara, os prédios das escolas são todos antigos, com carteiras que provavelmente foram usadas por Jacques Cartier (ou pelo menos pelo filho dele, que queria aprender inglês para um dia poder morar em outras partes do Canadá - piadinha infame, interna para os leitores de Quebec), paredes sujas, tudo feio. Mas...já diria alguém, o que é uma escola se não um espaço físico, o que faz a escola é o conteúdo humano, ok então.

Observando uma turma de maternal (alunos de 5 anos, que entraram pela primeira vez em uma escola há 2 semanas) hoje, eu fiquei abismada, pra não dizer revoltada. A atividade era fazer uma colagem livre com formas geométricas que tinham sido previamente cortadas. A dita cuja da professora, simpática como parecia ser, dizia incansável: "Explorem, explorem, pode fazer tudo o que sua imaginação deixar, vamos fazer coisas diferentes". Poxa, bem legal isso. E ela ia passando pelas mesinhas e repetindo, estimulando. Até que em um dado momento, a fadinha vira monstrinho e ela chega perto de um aluno e fala:
- O que é isso??? Crianças, parem tudo e olhem aqui (enquanto mostra o trabalho do menininho, que a essa altura já tinha os olhos esbugalhados de susto). Isso aqui (ela continua com voz absurdamente brava) , isso é ridículo (juro, a palavra foi ridículo!) , inacreditável. Olha, Fulaninho, seu trabalho vai pro lixo.
E para o lixo o trabalho foi.

O grande erro incabível cometido pelo menino tinha sido explorar, mas não como a professora pensou. Ele foi além. Além de explorar as formas, ele quis também explorar os materiais. Pegou a cola (que provavelmente nunca tinha pego antes) e encheu um dos quadrados de cola. Não é nem que ele estava jogando cola pro alto, fazendo chuva de cola ou passando no cabelo das meninas (o que ainda assim não chegaria a ser ridículo, já que era uma atividade de exploração, ao meu ver). Não, ele colocou a cola certinho, preenchendo o contorno, um quadrado de cola, genial, não?! - Não, ridículo. O quadrado de cola foi pro lixo, a cola foi tomada e o pequeno gênio ficou lá, visivelmente arrasado na sua cadeirinha. Mas uma lição ele aprendeu com certeza: Da próxima vez que a professora mandar explorar alguma coisa, ele vai perguntar antes como.

Aí eu penso no que pra mim é o ícone da educação: "Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino".( Paulo Freire )

Esse é só um exemplo entre muitos já testemunhados, infelizmente. Sem quadrados de cola, que tipo de busca é possível?? Não se aprende, não se ensina, é assim que eu tenho visto o sistema de educação por aqui. Por enquanto Alunack só brinca na creche e isto está de bom tamanha (é claro que eu preferiria que o dito "professor de música" fizesse uma aula de estimulação musical de fato ao invés de só ficar tocando, mas assim...brincar é bom), mas minhas pulgas já começam a saltar atrás da orelha enquanto eu monto um plano estratégico para mudar tudo em 4 anos, quando ele vai chegar lá, nesse mundo que é a escola. Afinal, já diria o Drummond (se foi ele mesmo que disse eu não sei já que nunca chequei a fonte, mas eu gostei da frase, atribuída a ele):

"Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem."( Carlos Drummond de Andrade )

E voi-là. Medo.
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Mural

Bibi: Já respondi no seu blog, mas vai a resposta pública. A leoa em questão foi vista no Parc Safari, um passeio bem "família" que realmente vale a pena, até com nenê na barriga. Além dos animais "nas jaulas" (que dá o maior dó...mas fazer o que?) como ursos lindos (que estão obesos por não terem espaço suficiente, tadinhos) tem uma parte tipo Simba Safari, onde você pode alimentar girafas, zebras, camelos e outros bichos que nem o nome eu não sei (aliás, se bobear você até leva um pra casa, a girafa por exemplo, quase ficou entalada dentro da Van, já pensou a situação? - O que você trouxe de lembrancinha? - Uma girafa). Também tem uma parte de parque aquático com "prainha" de mentira, parquinho de diversões e show de música africana. Ah sim, e de agora até o fechamento (meio de Outubro eu acho), a entrada é "de grátis".

E resposta de séculos atrás: O tal doutor que você viu em algum lugar falando que bebês são como homens da caverna deve ser o Dr. Karp. De todos os doutores que acham que sabem a fórmula mágica para a educação perfeita, este é um dos poucos que eu boto fé e concordo com muito (mas não tudo, obviamente) do que ele diz. Ele tem dicas ótimas e altamente recomendadas (testadas e aprovadas por aqui).

Flávia: A viagem pra Vancouver está virando novela...caro demais!!! Mas eu estou buscando incansavelmente uma passagem barata. Conhecendo a família aqui e sua ampla tradição de fazer as coisas com antecedência, se tudo der certo, umas horas antes do embarque eu vou saber se vou mesmo, e te aviso!



E resposta 2 - Herbalife, sim Herbalife mesmo, aquela dieta maluca que você troca 2 refeições por shakes ditos nutricionalmente balanceados. Além dos shakes, você (ou eu, no caso) tem que tomar 2 litros de chá verde por dia...como diria minha sogra: fome, peste e guerra, ou "a porta dos desesperados", qualquer coisa pra me livrar desse extra que não me pertence!



Mariana: A mochila é mesmo do tamanho que parece ser, mas não se preocupe, não é ele que carrega, se fosse pelo menos teria rodinhas, né? :-)
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Relatório

Quase uma semana tomando esses deliciosos, saborosos, estupendos shakes, que não te deixam com fome e sobretudo não te fazem pensar em comida jamais, e pasmem...estou super contente e satisfeita.


Mas isso é só nos raros minutos que eu não estou matando alguém ou pensando em um plano de fuga de mim mesma, onde eu possa trapacear e comer o mundo inteiro, exceto os jilós.

Coisa chata essa de não ter ninguém no seu ouvido falando: "Mas eu paguei isso, agora faz direito", ou: "Eu não te eduquei pra isso menina", nadinha disso pra se revoltar contra e comer de vez aquele ovo de páscoa que pela primeira vez na vida não acabou antes mesmo da Páscoa e que você sabe, está escondido lá no depósito.

Alguém aí, por favor, invente rápido a fórmula mágica do emagrecimento milagroso ou a bomba atômica seletiva que só extermine os seres com IMC menor que 24, deixando os outros seres humanos (os normais), felizes e em paz.

Grata,
Keiko - breve, em um sanatório perto de você.
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I'll be there for you

Esta é a primeira frase do coro da música de abertura do seriado favorito de todos os tempos pra muita gente, inclusive a minha própria pessoa, se você reconhece a frase, sabe do que eu estou falando.

Ultimamente eu andava tão entretida com a leitura de blogs como atividade preferida quando pilhas de louça estão por lavar, o jantar por fazer e kilos de artigos por ler, que havia abandonado a TV, que desde então passou a servir apenas como palco para Estrelack, que sobe em cima do rack e fica fazendo seu showzinho. Ajudou o fato de estarmos na "mid season", também conhecida como "o terror dos fãs de seriado". Essa época do ano (de Maio a Setembro) na TV, é pior do que Domingo, e nem tem o Fantástico no fim pra dar um consolo.

Pois é, agora que retomei a vida como ela é e saio de casa as 6h e volto as 17h, finalmente redescobri o prazer de ficar largada no sofá sem mover um músculo e sem gastar nenhum neuroniozinho sequer. Isso inclusive, condiz perfeitamente com a promessa de fazer atividades lúdicas, estimulantes e divertida com Sedentariack ao chegar em casa, para compensar as horas de terror e abandono que ele anda passando na creche ou melhor, escolinha.

Meu filho sabe que " eu estou aqui para ele" (I'll be there for you - hã? hã? hã? sacou o trocadilho?) , no sofá, assistindo pela milésima vez algum episódio de "Friends", e ele junto. Que "Backyardigans" que nada, o programa preferido de Seriack agora é Friends, com direito a gargalhadas quando a mãe histérica se mata de rir com a piada que já sabe de cor, e dancinha na hora do intervalo. Nada no mundo pode ser uma experiência mais enriquecedora e estimulante para uma criança de 14 meses do que assistir todos os episódios de Friends na companhia de sua mãe. Privilegiack é mesmo muito sortudo, eu só fui conhecer Friends lá pelos meus 18 anos, ele não tem nem 18 meses e já tem essa honra.

Vida deprimente essa de mãe solteira com um filho carente em adaptação na creche, você acaba se alegrando com momentos de mãe e filho nunca antes imaginados, como fazer depilação com ele em cima de você, ir ao banheiro com ele no colo, dormir abraçada com ele por pura carência sua e finalmente, assistir Friends juntos, você em cima do sofá, ele em cima de você. Já diria a música-tema: "So no one told your life was gonna be this way "(Então ninguém te contou que sua vida ia ser assim) - pra mim não contaram, contaram pra você?


PS - Em tempo, a vida de mãe solteira acaba amanhã, para o alívio da mãe solteira, quando seu Princhuco retorna em seu cavalo alado do Brasil, vindo salvar a mãe e o pobre filho das garras da solidão, do serviço doméstico solitário e das alternativas de lazer sedentárias.
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Trânsito

Desde que mudei pra cá ficava feliz da vida achando que aqui, não tinha trânsito como o de São Paulo. Quem já ficou mais de 4 horas parada na Marginal Tietê sabe do que eu estou falando, trânsito é aquele que te obriga a desligar o carro, pegar a pinça e começar a fazer a sombrancelha e outras atividades altamente recomendadas e seguras já citadas por aqui.

Essa semana eu entendi porque eu achava que aqui não tinha trânsito, era porque eu andava de metrô.

Esta semana minha alegria se provou vã, aqui tem trânsito, e muito. As distâncias são menores, logo as horas também, mas que tem, tem.Um leitor atento pode se perguntar: "Mas por que raios então ela não continua andando de metrô?". E a resposta é simples, desde que eu sou uma mãe solitária, com um filho para levar para a creche, eu me recuso a usar o transporte público. O metrô tem sim inúmeras vantagens, mas acessbilidade, definitivamente, não é uma delas. Tente carregar um bebê em seu carrinho, a bolsa dele e sua própria bolsa, escada a cima, escada a baixo, e sobe, e desce e puxa e vai...minha gente, te digo, não é divertido. Troquei a meia hora de metrô por uma hora de carro, mas pelo menos não chego suada e desfigurada ao destino final. É fato que também tive que trocar os $32 que se paga para usar o transporte público livremente o mês todo por mais do que isso por semana, mas o que a gente não faz para ficar bonitinha, e se poupar do esforço físico.

Outro dia recebí um email daqueles encaminhados que eu odeio, mas que eventualmente resolvi ler. A tal mensagem era ótima e apresentava alguns fatos que comprovavam que você vive no Québec. Um deles era: Se você conhece as 4 estações: Quase inverno, Inverno, Ainda a estiagem do inverno e as Obras nas ruas e estradas, você vive no Québec. Aparentemente a estação atual é a das Obras. Boa parte da rua que me leva à creche e ao meu trabalho está fechada para obras, assim, fechada mesmo, o retorno por si só é uma viagem . A rua da creche, ops, escolinha, foi cortada pela metade. Quando digo cortada eu quero dizer cortada mesmo, foram lá e cortaram a calçada e o asfalto, não me perguntem o porquê. E é por essas e outras que há tempos minha sombrancelha não andava tão bem feita. Se bem que agora tenho outras distrações, como tirar o picolé da mão de Larapiack que ia pegar só um pedacinho e me tomou tudo e fazer diferentes gestos e caras pelo retrovisor para o mesmo enquanto canto todo o meu repertório de canções. De um jeito ou de outro, o povo que passa e me vê questiona minha sanidade e por vezes até me chama a atenção, mas como ninguém paga minhas contas, não ligo não.

E foi assim que, quem diria, eu sentí saudades do trânsito de São Paulo...Lá pelo menos sempre tem um moleque vendendo Bijou, Suflair (2 por 5 real), água, castanha de cajú de vigésima qualidade e por aí vai. Se bobear, você chega em casa com as compras do mês feitas (nesse momento você se pergunta que tipo de pessoa tem por compra do mês os itens supracitados...mas enfim...). É fato que você nunca sabe se o vendedor vai mesmo te vender ou eventualmente te assaltar, mas até aí, já diria minha mãe, não se pode querer tudo.
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Volta à aulas ou Memórias de uma mãe do século XXI sem família nem babá

Ontem foi segunda-feira, estou consciente. Consistente como só eu sou, bem lembrei da minha recente auto-idéia da "Segunda-séria". No entanto, contudo, todavia, entretanto, ontem foi feriado por aqui, dia do trabalho, precedendo a "volta às aulas". A fim de honrar o nome do feriado, baixou a Isaura e me pus a fazer aquela faxina básica.

Já não era sem tempo, diria qualquer pessoa que passasse pela minha casa. Encontrei uns fósseis do período pré-diluviano sob o pó da estante, percebi que o céu é azul quando a janela está limpa, resgatei brinquedos escondidos (pelo mesmo auxiliar de limpeza que come a sujeira da vassoura) em lugares super secretos.
Lerê-lará pra cá, chibatadas prá lá e no fim do dia a única coisa séria que eu conseguia pensar era que, sem ironia, a escravidão é uma das coisas mais horrendas que se passou (e passa ainda, infelizmente) com a humanidade. Fazer faxina, NA CASA DOS OUTROS, em troca de maus tratos, sério mesmo, isso não é vida. Fica um post realmente sério pra segunda que vem, quando os resíduos traumáticos tiverem se diluído. Saudade de um tempo quando feriado era sinônimo de dormir até tarde, ir ao cinema ou viajar.

Mas bom, vai a noite, chega o dia e hoje foi "O" dia. Acordei ouvindo no rádio o apresentador anunciando: "Feliz primeiro dia de aula", "É, acabou o verão, as férias...Está de volta a rotina, o trânsito...", algo familiar para brasucas em meados de Fevereiro, ou depois do carnaval.

No carro, a mãe temporariamente solteira (Princhuco no Brasil, o sortudo) escuta: "Volta à as aulas, tensão do primeiro dia de aula para muitas crianças e mães, para este momento, uma música apropriada: Don't worry, be happy!". Enquanto escuta, a mãe ridícula chora. No banco de trás, o rebento segue para o abate, digo, para a creche. Aliás, creche não, já viu como creche tem um ar assitencialista, sem planejamento, de mãe que abandona o filho por lá para cuidar dos próprios interesses, não, não, filho meu não vai pra creche, vai pra "Escolinha". Sim, escolinha, que soa mais pedagógico, educativo, lúdico. Pronto, está decidido, Abandonack vai para escolinha, não para creche. Aliás, para melhorar mais ainda, vai para o "Centro da Primeira Infância", que é o nome que isso tem por aqui. Um nome faz toda a diferença, meus caros, pergunte ao meu amigo que chama Ayalon, coitado, o pobre sofreu.

Mas enfim, voltando, a mãe leva ao rebento ao Centro da Primeira Infância, onde já tinham estado nas semanas anteriores por algumas horas, fazendo visita. Hoje, no entanto, era o dia definitivo. A mãe, tira a cara apreensiva, bota a simpática para saudar as "professoras"e os outros pais igualmente tensos. Senta de lado por alguns instantes enquanto Independack sai engatinhando pela sala (porque ele decidiu que só vai andar mesmo com 18 anos), brincando com tudo, beijando todos. A mãe, meio que tranquila, fica por lá fingindo que não tem que ir embora, tira umas 400 fotos, explica que "ábua" quer dizer "water", ou "food" ou "give me that right away!", troca uma meia dúzia de palavras furadas parentais com os outros pais ("Ele já anda? Ele fala o que? Ai, não é a coisa mais linda? Olha só...") até que realmente, ela tem que ir embora. Dá tchau, conforme instruções, e para seu horror interno, Desesperack chora.

A mãe, que não conto quem é, e que não contava com o choro, brava e corajosa vai embora, sob a ordem simpática da professora, não sem derramar um rio de lágrimas e parar na escada para ouvir o choro da pobre criança abandonada a esmo. Choro? Que choro? Durou uns 10 segundos...Quando a mãe pára na escada, não há mais choro, exceto o dela. Esse sim dura longos 15 minutos enquanto ela caminha para seu escritório e liga do celular para o marido distante, pagando pela ligação provavelmente o que pagará pelo mês inteiro da criança na creche, digo, escolinha . Chegando lá, fica vendo fotos e mais fotos, como a mãe cujo filho serve o exército no Haiti. Dadas as eternas 4 horas sugeridas para a adaptação, ela volta desesperada e encontra o filho, pasmem, não só vivo como feliz da vida. Isso é, feliz até vê-la e cair no choro como quem diz: "Você é um monstro, onde já se viu vir me buscar?" - não, não, o que ele realmente quis dizer era: "Só te perdoo se você me der esse peito agora!". Como a mãe pode até ser ruim, mas não é louca, dá o peito para o filho, enquanto também dá colo para um outro amiguinho cujo peito ainda não tinha chegado. Tudo resolvido, Felizack sai correndo de novo atrás dos amigos e dos brinquedos, protestando quando a mãe, que só serve mesmo pra incomodar, o pega para levar embora.

Mude o nome "mãe" para "Joaquina Gabriela" e dava uma boa novela mexicana, não? Pois é, foi assim...

Feliz volta às aulas!

PS- Fotos do momento virão quando eu achar o cabo da máquina.
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Cinismo

Dizem por ai que criança é pura, que só aprende maldade e estratégias sociais ilícitas depois de grande, tudo balela.

Ciniack aqui ainda não passa do meu joelho, mas já deu pra mostrar a que veio.

Após análise detalhada e observação sistemática do caso, consegui desvendar suas estratégias maquiavélicas: Puxa um cabelo - dá um sorriso, arranca o óculos de alguém e joga no chão - dá um beijinho, derruba tudo que está na mesa, no rack, no sofá, na estante, na escrivaninha - vem deitar na sua perna fazendo carinho.

Ainda tem o fator "duas caras", que prova o nível de sofisticação dos estratagemas do pequeno ser. Veja outro dia no restaurante. Por razões que se auto-explicam depois da cena, o restaurante teoricamente só aceitava crianças do lado de fora (em mesinhas na calçada), junto com os cachorros, fumantes e maltrapilhos. Como começou a chover, eles foram obrigados a nos colocar pra dentro, pra não nos expulsarem com o prato meio comido na mão. Espremidos em uma mesa que não cabia onde estava, a mãe se debatia pra tentar comer uma salada, entre talheres lançados ao chão, uma toalha puxada que por consequência derrubou o copo de água, onde antes um pão tinha sido colocado e tirado, colocado e tirado, espremido, mastigado, colocado de volta dentro do copo, aquela coisa higiênica. Quando a vasilha da salada foi quase virada pela milésima vez a mãe desiste e larga o menino no chão, pra ver se alguém passa e leva.

Com a maior cara de simpático do mundo o cidadãozinho se aproxima da mesa ao lado e pede colo. A mulher desconhecida o pega. A mãe finge que não está vendo nada e aproveita para comer desesperadamente a salada à sua frente, como quem come o último Passatempo antes da sentença de morte. Sentado calmo e plácido no colo da estranha, o bebê sorri, dá beijinho, fica olhando o ventilador e não esboça sequer uma tentativa de pegar nada que esteja na mesa, agora me diga, é ou não puro cinismo?